Eu preciso fazer uma confissão aqui: eu sou viciada em spoilers.
Simplesmente não consigo viver sem eles. Eu os amo e os odeio.
Certa vez, eu estava lendo meu primeiro thriller e amando ele (normalmente eu não gosto do estilo, mas esse livro em questão era muito bom), mas não consegui lidar com o suspense e procurei na internet todos os spoilers possíveis. Na metade do livro eu já sabia exatamente o que iria acontecer, inclusive o gigantesco plot twist no final.
Eu já fiz coisas como, de uma vez só, assistir o último episódio de cada temporada da série que eu tinha acabado de começar a assistir só para saber aonde que o personagem principal iria parar.

Meu marido detesta spoilers e eu sou proibida de falar qualquer detalhe sobre o filme ou seriado que a gente está assistindo juntos. Certa vez, assistíamos um seriado, o qual ele havia assistido antes e já conhecia a história, e ele estava animado com a surpresa que eu teria quando um dos personagens principais fosse assassinado. De repente eu pausei o episódio e disse:
"Amor, preciso confessar uma coisa".
"Ãh, fala" Já com cara de quem sabia o que estava por vir.
"Eu já sei que fulana vai ser assassinada."
"Aaaaahhh, mas como?"
"Foi por acidente!"
"Acidente como?"
"Acidente do tipo: eu digitei no Google 'spoilers _nome do seriado_'  e esse era um dos principais spoilers que tinha lá nos links que eu achei."
"..." Poker face.



Eu não consigo lidar bem com o fato de não saber o que está para acontecer. Eu preciso ter controle do que eu estou consumindo, seja assistindo ou lendo. Isso me traz uma sensação confortante de estar com as minhas emoções nas minhas mãos.
Eu já desejei ardentemente poder abrir o Google e digitar assim: 'spoilers da vida da Kelly'.
Terei uma vida longa? Voltarei um dia para o Brasil? Conseguirei ter uma carreira aqui na Holanda? Serei sempre saudável? O que vai acontecer com as pessoas que eu amo? Terei filhos? Comprarei uma casa? Como eu vou morrer? Os meus sonhos se tornarão realidade?
Mas eu me pergunto se eu realmente daria conta de saber todas essas coisas a respeito da minha vida.



No dia 1º de julho completaram-se 10 anos desde a primeira vez em que eu vi meu marido. No dia anterior eu havia chegado em BH e estava assustada e com muito medo. Tudo era muito novo para mim. Pela primeira vez eu estava morando em uma cidade assustadoramente grande, sem amigos e familiares por perto e não tinha idéia de como seria essa nova fase da minha vida, pois nunca antes eu tinha feito algo parecido.
No primeiro dia do treinamento missionário que eu fui fazer em BH, na JOCUM, foi organizado um café da manhã especial para apresentar os novos alunos do curso e os voluntários do centro comunitário onde moraríamos nos próximos 5 meses. E lá estava ele: alto, olhos de um azul claríssimo, um cabelo loiro que caía até a metade das costas, todo vestido de preto, rosto típico europeu. Ele disse o nome dele, o qual eu não entendi, e que era voluntário no centro comunitário. Desde a primeira vez em que eu o vi, fiquei fascinada e não consegui mais parar de pensar nele. Cada vez que ele passava por mim no centro comunitário, meu coração vinha bater na garganta e eu esquecia de respirar.



Enfim, imagina só se naquela primeira vez em que eu o ouvi falar seu nome o tempo se congelasse e eu tivesse a oportunidade de abrir o Google e digitar isso aqui:



E as respostas fossem:
- Você não vai mais morar na sua cidade, perto da sua família;
- Pelos próximos 6 anos você vai morar e trabalhar nesta favela;
- Você vai casar com esse holandês cujo nome você nem entendeu;
- Daqui 7 anos você vai se mudar para a Bélgica e vai passar muito tempo sozinha lá;
- Em 10 anos você estará morando na Holanda, batalhando para aprender a língua e conseguir um emprego;

Sabe o que eu teria feito se soubesse de tudo isso? Teria entrado no primeiro ônibus para o Paraná e teria me escondido debaixo da cama quando chegasse em casa, simplesmente pelo fato de que aquela menina assustada que tinha acabado de chegar do interior e que ainda chorava de saudade das irmãs, não daria conta de saber o que o futuro lhe reservava. Naquele momento, estar em BH e fazer aquele curso era o máximo com que eu conseguia lidar.
Isso não quer dizer que esses últimos 10 anos foram ruins, muito pelo contrário, foram os mais felizes da minha vida! Mas se eu soubesse de antemão tudo o que iria acontecer, a covardia teria me roubado toda essa felicidade.

Pensando em tudo isso me dei conta de que, mesmo que seja tentador querer saber os spoilers da vida, Deus foi muito gracioso conosco em não nos deixar saber o que acontecerá no nosso futuro.

Eu estou preparada para o hoje. Amanhã estarei preparada para amanhã. A cada dia eu recebo a graça necessária para o hoje.
Um dia de cada vez. Um passo atrás do outro. E é nessa confiança que eu preciso caminhar, sabendo que eu tenho um Pai no céu que está no controle de toda a minha vida, que vai cuidar de mim em cada passo que eu der nessa minha caminhada. Enquanto eu caminho Ele cuida de mim, prepara o chão para eu pisar, sustenta meus passos e me mostra a direção em que devo seguir. Ele conhece cada pedra desse caminho, cada buraco, cada flor a beira da estrada, cada sombra refrescante aonde eu poderei recostar e descansar, cada encruzilhada.
Pronto. Só isso que eu preciso saber.

É simples, mas não quer dizer que seja fácil. A minha fé precisa ser exercitada a cada passo que eu tomo. E não é essa a melhor forma de exercitar a fé? Enquanto eu caminho, aprendo, cresço, espero e creio.

Há 10 anos, se eu soubesse de tudo o que iria acontecer, tenho certeza que eu não daria conta. Mas hoje eu não apenas dou conta da minha vida como está, como sou apaixonada por ela. Eu olho para o passado e dou graças por tudo o que aconteceu. Eu olho para o futuro e confio Naquele que nunca me desamparou.

Pensando nisso, me lembrei de uma música do Casting Crowns que diz assim:





É isso aí, confiar e seguir em frente. E agradecer a Deus por não ser possível sabermos os spoilers da nossa vida.