Depois de muito tempo sem escrever aqui, resolvi tirar a poeira desse blog esquecido e contar a história do momento mais intenso e feliz da minha vida até agora.
Eu sempre achei relatos de parto bonitos, mas não pensava em escrever sobre o meu até o momento que as parteiras daqui me encorajaram a escrever a minha experiência, na minha própria língua, para me ajudar a processar tudo o que aconteceu.
Então, eis aqui o meu relato.
Tudo começou na noite do dia 15 de novembro. Minha sogra havia me ligado naquela noite para saber se estava tudo bem e se já havia algum sinal da chegada do bebê.
"Não", eu disse, "não tem sinal de nada por aqui. Acho que ele vai chegar no fim de semana (era uma quarta-feira)"
Às 23hs30min eu estava deitada no sofá assistindo seriado quando eu senti um líquido sair. Eu pensei:"bem, xixi não é porque não sai xixi desse lugar. Será que é a bolsa que estourou? Ai, que preguiça de levantar para ver o que é..."
Decidi então esperar. Se fosse a bolsa mesmo iria sair mais líquido. Dito e feito. Quando eu senti sair mais líquido levantei rápido do sofá. Olhei ao redor para ver se tinha algo para segurar a água e só vi a calça do meu pijama (porque naqueles dias eu usava calça apenas quando era extremamente necessário). Coloquei a calça dobrada no meio das pernas (porque eu não queria molhar o chão) e gritei para o meu marido, que estava trabalhando no escritório dele no segundo andar.
"Amor, corre aqui embaixo rapidinho!"
Ele desceu as escadas numa corrida.
"O que foi?"
"A bolsa estourou!!"
Fomos juntos ao banheiro. Eu numa tremedeira só. Ele numa alegria só.
A emoção que eu senti foi muito intensa. Bem, emoções, pois era medo, alegria, amor, incerteza... tudo junto e misturado.
Demos as mãos e oramos juntos. Eu sentada no vaso, ele abaixado na minha frente.
Depois de ligarmos para os pais dele para deixá-los de sobreaviso, pensamos no que faríamos a partir dali. Eu ainda não tinha contrações, então resolvemos ir para a cama e tentar pegar umas horinhas de sono antes do furacão.
Assim que deitamos, as contrações começaram.
"Uai, não é tão ruim, não", pensei.
Mas dentro de poucos minutos elas começaram ficar mais intensas e meu olho arregalou. Resolvi descer para a sala e tentar as manobras para lidar com a dor que eu tinha aprendido.
Tijs desceu comigo, mas eu falei para ele trazer uma coberta para baixo e tentar dormir no sofá. Até aquele ponto eu estava dando conta sozinha.
Uma hora depois o Tijs acordou com a minha respiração e gemidos. As contrações ficaram bem fortes e cada vez mais perto umas das outras e eu estava tentando lidar com a dor com os exercícios de respiração que eu havia aprendido.
A partir daquele momento ele respirou comigo o tempo todo, me ajudando a lembrar dos exercícios.
Passamos a madrugada toda respirando, assistindo Friends, cochilando entre as contrações e mandando mensagens para as minhas irmãs contando como eu estava e assegurando que estava tudo bem.
Às 5hs30min resolvemos ligar para a parteira, pois as contrações estavam muito fortes e com 3 minutos entre uma e outra.
Ela chegou às 6 horas e fez o exame de toque. Eu toda feliz achando que já estava com uns 6cm de dilatação.
"Você está com 2 cm" ela disse.
Foi um balde de água fria.
"Ok" eu pensei "vai ficar mais intenso, mas eu dou conta".
A parteira foi embora dizendo que voltaria em 3 horas.
Me concentrei e respirei fundo.
"Vamos lá, Kelly, força na peruca que ele vai chegar" foi o meu pensamento.
Às 9 horas chegou a parteira. As contrações vinham a cada 2 minutos e eu achando que já estava quase lá.
Exame de toque de novo.
"Você está com 4 cm, Kelly. O que você quer fazer? Quer ficar em casa e esperar mais ou ir para o hospital e tomar uma anestesia?"
"Eu quero ir para o hospital".
Nessa hora eu já não aguentava mais a dor e não conseguia andar ou fazer qualquer outra coisa. A posição mais confortável era ficar meio sentada no sofá.
Durante a minha gravidez eu ouvi muito que contrações eram tipo uma cólica menstrual, mas só que 20 vezes pior e também ouvi muito sobre as tais "rugweeën" (traduzindo literalmente, contrações nas costas). Eu não sei como se chama esse tipo de contração em português, mas por aqui eles dizem que é o pior tipo de contração que tem.
Pois então, "Tipo cólica menstrual meu nariz!!!" e, é claro, eu tive as tão famosas "rugweeën".
Ligamos para a minha sogra para vir nos buscar e quando ela chegou eu mal conseguia caminhar. Dava 3 passos e vinha uma contração e nessa hora era chamar por Jesus e cair de joelhos no chão (de dor, não por devoção).
Depois de um trajeto que parece que durou horas, mas que durou só 20 minutos, chegamos no hospital.
Na suite de parto me ligaram a um monte de aparelhos, pois antes de tomar qualquer anestesia, era preciso avaliar o estado por bebê por meia hora.
Nesse ponto eu só conseguia ouvir o Tijs respirando no meu ouvido e me dando o ritmo para eu poder me lembrar de respirar. As contrações estavam vindo a cada minuto e muito, muito intensas.
Eu ouvia o Tijs me ajudando a respirar e sussurrando palavras de conforto, horas em Português, horas em Holandês, equanto eu falava:"Ik kan niet meer!! Ik kan niet meer!!"(Eu não aguento mais).
A ginecologista veio me avaliar para decidir qual tipo de anestesia seria melhor no meu caso.
Exame de toque de novo e:
Surprise, surprise!!!
5 centímetros só!!!
Eu me desesperei. Mais de 10 horas de trabalho de parto, contrações vindo a cada minuto, tão intensas que às vezes eu esquecia de respirar e gritava ou grunhia, não tenho certeza do que eu fiz nesse mar de dor.
"Epidural" disse a ginecologista.
As contrações estavam intensas demais e não havia progresso na dilatação.
Fui para uma outra sala onde eles administraram a anestesia.
E adivinha: só pegou de um lado!
Tenta daqui, tenta dali. Espera. Tenta mais um pouco.
Nada. A anestesia só pegou de um lado mesmo. A dor mais intensa tinha desaparecido, mas do lado direito eu ainda sentia as contrações forte o suficiente para ter que aplicar meus tão preciosos exercícios de respiração.
Enfim, com a anestesia eu podia ficar mais tranquila e descansar. Já era 13 horas e o Tijs pode finalmente comer alguma coisa. Eu ganhei um picolé e estava totalmente zen, não sei se da dor tão intensa que eu tinha sentido ou da anestesia ou do picolé. O fato é que pela primeira vez desde que as contrações tinham começado eu podia pensar no bebê e entender o que estava acontecendo ao meu redor, porque até aquele momento era como se só existisse eu e a dor. O mundo ao meu redor estavaestava parece que envolto em uma névoa.
Eu sempre achei relatos de parto bonitos, mas não pensava em escrever sobre o meu até o momento que as parteiras daqui me encorajaram a escrever a minha experiência, na minha própria língua, para me ajudar a processar tudo o que aconteceu.
Então, eis aqui o meu relato.
Tudo começou na noite do dia 15 de novembro. Minha sogra havia me ligado naquela noite para saber se estava tudo bem e se já havia algum sinal da chegada do bebê.
"Não", eu disse, "não tem sinal de nada por aqui. Acho que ele vai chegar no fim de semana (era uma quarta-feira)"
Às 23hs30min eu estava deitada no sofá assistindo seriado quando eu senti um líquido sair. Eu pensei:"bem, xixi não é porque não sai xixi desse lugar. Será que é a bolsa que estourou? Ai, que preguiça de levantar para ver o que é..."
Decidi então esperar. Se fosse a bolsa mesmo iria sair mais líquido. Dito e feito. Quando eu senti sair mais líquido levantei rápido do sofá. Olhei ao redor para ver se tinha algo para segurar a água e só vi a calça do meu pijama (porque naqueles dias eu usava calça apenas quando era extremamente necessário). Coloquei a calça dobrada no meio das pernas (porque eu não queria molhar o chão) e gritei para o meu marido, que estava trabalhando no escritório dele no segundo andar.
"Amor, corre aqui embaixo rapidinho!"
Ele desceu as escadas numa corrida.
"O que foi?"
"A bolsa estourou!!"
Fomos juntos ao banheiro. Eu numa tremedeira só. Ele numa alegria só.
A emoção que eu senti foi muito intensa. Bem, emoções, pois era medo, alegria, amor, incerteza... tudo junto e misturado.
Demos as mãos e oramos juntos. Eu sentada no vaso, ele abaixado na minha frente.
Depois de ligarmos para os pais dele para deixá-los de sobreaviso, pensamos no que faríamos a partir dali. Eu ainda não tinha contrações, então resolvemos ir para a cama e tentar pegar umas horinhas de sono antes do furacão.
Assim que deitamos, as contrações começaram.
"Uai, não é tão ruim, não", pensei.
Mas dentro de poucos minutos elas começaram ficar mais intensas e meu olho arregalou. Resolvi descer para a sala e tentar as manobras para lidar com a dor que eu tinha aprendido.
Tijs desceu comigo, mas eu falei para ele trazer uma coberta para baixo e tentar dormir no sofá. Até aquele ponto eu estava dando conta sozinha.
Uma hora depois o Tijs acordou com a minha respiração e gemidos. As contrações ficaram bem fortes e cada vez mais perto umas das outras e eu estava tentando lidar com a dor com os exercícios de respiração que eu havia aprendido.
A partir daquele momento ele respirou comigo o tempo todo, me ajudando a lembrar dos exercícios.
Passamos a madrugada toda respirando, assistindo Friends, cochilando entre as contrações e mandando mensagens para as minhas irmãs contando como eu estava e assegurando que estava tudo bem.
Às 5hs30min resolvemos ligar para a parteira, pois as contrações estavam muito fortes e com 3 minutos entre uma e outra.
Ela chegou às 6 horas e fez o exame de toque. Eu toda feliz achando que já estava com uns 6cm de dilatação.
"Você está com 2 cm" ela disse.
Foi um balde de água fria.
"Ok" eu pensei "vai ficar mais intenso, mas eu dou conta".
A parteira foi embora dizendo que voltaria em 3 horas.
Me concentrei e respirei fundo.
"Vamos lá, Kelly, força na peruca que ele vai chegar" foi o meu pensamento.
Às 9 horas chegou a parteira. As contrações vinham a cada 2 minutos e eu achando que já estava quase lá.
Exame de toque de novo.
"Você está com 4 cm, Kelly. O que você quer fazer? Quer ficar em casa e esperar mais ou ir para o hospital e tomar uma anestesia?"
"Eu quero ir para o hospital".
Nessa hora eu já não aguentava mais a dor e não conseguia andar ou fazer qualquer outra coisa. A posição mais confortável era ficar meio sentada no sofá.
Durante a minha gravidez eu ouvi muito que contrações eram tipo uma cólica menstrual, mas só que 20 vezes pior e também ouvi muito sobre as tais "rugweeën" (traduzindo literalmente, contrações nas costas). Eu não sei como se chama esse tipo de contração em português, mas por aqui eles dizem que é o pior tipo de contração que tem.
Pois então, "Tipo cólica menstrual meu nariz!!!" e, é claro, eu tive as tão famosas "rugweeën".
Ligamos para a minha sogra para vir nos buscar e quando ela chegou eu mal conseguia caminhar. Dava 3 passos e vinha uma contração e nessa hora era chamar por Jesus e cair de joelhos no chão (de dor, não por devoção).
Depois de um trajeto que parece que durou horas, mas que durou só 20 minutos, chegamos no hospital.
Na suite de parto me ligaram a um monte de aparelhos, pois antes de tomar qualquer anestesia, era preciso avaliar o estado por bebê por meia hora.
Nesse ponto eu só conseguia ouvir o Tijs respirando no meu ouvido e me dando o ritmo para eu poder me lembrar de respirar. As contrações estavam vindo a cada minuto e muito, muito intensas.
Eu ouvia o Tijs me ajudando a respirar e sussurrando palavras de conforto, horas em Português, horas em Holandês, equanto eu falava:"Ik kan niet meer!! Ik kan niet meer!!"(Eu não aguento mais).
A ginecologista veio me avaliar para decidir qual tipo de anestesia seria melhor no meu caso.
Exame de toque de novo e:
Surprise, surprise!!!
5 centímetros só!!!
Eu me desesperei. Mais de 10 horas de trabalho de parto, contrações vindo a cada minuto, tão intensas que às vezes eu esquecia de respirar e gritava ou grunhia, não tenho certeza do que eu fiz nesse mar de dor.
"Epidural" disse a ginecologista.
As contrações estavam intensas demais e não havia progresso na dilatação.
Fui para uma outra sala onde eles administraram a anestesia.
E adivinha: só pegou de um lado!
Tenta daqui, tenta dali. Espera. Tenta mais um pouco.
Nada. A anestesia só pegou de um lado mesmo. A dor mais intensa tinha desaparecido, mas do lado direito eu ainda sentia as contrações forte o suficiente para ter que aplicar meus tão preciosos exercícios de respiração.
Enfim, com a anestesia eu podia ficar mais tranquila e descansar. Já era 13 horas e o Tijs pode finalmente comer alguma coisa. Eu ganhei um picolé e estava totalmente zen, não sei se da dor tão intensa que eu tinha sentido ou da anestesia ou do picolé. O fato é que pela primeira vez desde que as contrações tinham começado eu podia pensar no bebê e entender o que estava acontecendo ao meu redor, porque até aquele momento era como se só existisse eu e a dor. O mundo ao meu redor estavaestava parece que envolto em uma névoa.
Tijs e eu ficamos sozinhos na suite de parto e de vez em quando vinha uma parteira ou enfermeira avaliar o meu estado. A minha parteira foi embora, já que aqui na Holanda, se você vai parir no hospital, a sua parteira, aquela que te acompanhou durante toda a gravidez, vai embora e você fica sob os cuidados da equipe do hospital.
Lá pelas 15 horas vieram me examinar.
"6 a 7 centímetros. Nós vamos induzir as contrações".
Passamos a tarde assim: contração, respira, cochila, fala com a família no Brasil e na Holanda, contração, respira, exame, sonha e faz planos...
Tá sofrido, mas nosso menininho tá chegando.
Exame de toque novo. 8 centímetros. Aumenta a dose do remédio para acelerar as contrações.
Falta só mais dois centímetros!! Eu comecei a grunhir/gritar/gemer de dor. Mesmo com epidural, as contrações estavam muito intensas. Muito mais do lado direito, onde a anestesia não pegou, claro.
17 horas: 10 centímetros!!! Finalmente!!
Vem o ginecologista (já o segundo turno de ginecologista, parteira e enfermeira):
"Você está com 10 centímetros, mas não dá para fazer força ainda. O bebê ainda está alto demais".
Espera, espera e espera mais um pouco.
Às 19 horas chega a parteira com a novidade:"Kelly, você já está há muito tempo com dilatação total e não sente aquela urgência de fazer força, então nós decidimos empurrar esse bebê pra fora. Eu vou te dizer quando fazer força."
Nessa hora eu comecei a tremer e a chorar. Faltava pouco. Mesmo sem a tal da vontade de fazer força* eu decidi juntar toda a minha coragem e energia para trazer meu filho ao mundo.
19hs30min começamos a fase de expulsão.
Contração, força, força, força.
Contração, força, força, força
20hs30min: 0 % de progresso.
"Kelly, nós vamos tentar até as 21 horas. Se não tiver progresso, vou chamar a ginecologista. Mas eu acho que você vai precisar de uma cesariana" disse a parteira.
Contração, força, força, força e olho no relógio.
Eu só pesansava: Por favor, Deus, cesariana não!
E juntava toda a minha força para trazer meu filho ao mundo.
A enfermeira até perguntou se eu malhava pois eu tinha muita energia e força para empurrar o bebê.
"Estamos vendo a cabeça! Ele tem cabelo preto!!!"
O Tijs quis ver também.
Contração, força, força, força.
O Tijs com um sorriso do tamanho do mundo diz:"Eu tô vendo, ele tem cabelo preto mesmo!!"
21 horas chega a ginecologista (a terceira do dia).
"Nós vamos tentar mais 15 minutos, senão tiver progresso vamos fazer uma cesariana".
Eu me concentrei e pensei: 15 minutos! Eu tenho 15 minutos para tentar o tão desejado parto normal.
O relógio virou meu inimigo. Enquanto eu fazia força como nunca antes, acompanhava o mover dos ponteiros.
A ginecologista fez de tudo para me ajudar mantendo o canal de parto o mais aberto possível, o que aumentava ainda mais a dor.
Na última contração eu dei tudo de mim, mas o resultado foi o mesmo: o bebê não saía.
21hs15min. Meu tempo para tentar o parto normal tinha de esgotado.
"Vai ser cesariana mesmo" disse a ginecologista.
Eu chorei. Muito.
Cansaço, frustração, medo.
Pedi um tempo para eu e o Tijs orarmos. Eu precisava do consolo, força e coragem que só Deus pode dar.
"Se tiver mais contrações não precisa fazer força. É só fazer os exercícios de respiração" disse a parteira enquanto saía da sala de parto.
E assim todos saíram. Até as contrações foram embora. Ficamos só eu e o Tijs na sala de parto e nosso filho ainda mexia agitado na minha barriga e chutava a minha costela.
Oramos enquanto eu soluçava.
Meia hora depois vieram me buscar para me preparar. Eu estava mais calma nessa hora e pronta para conhecer o meu filho.
Tudo aconteceu muito rápido. A equipe conversava muito comigo para me distrair e faziam perguntas sobre o Brasil.
Eu pensei que eles nem tinham começado a me abrir quando eles perguntaram para o Tijs se ele queria ver o bebê nascer. Ele saiu rapidinho do meu lado e ficou ao lado da ginecologista. Eu contei os segundos e de repente, às 22hs27min, do dia 16 de novembro, eu ouvi o chorinho mais lindo do mundo.
" Is hij er? (ele chegou?)" eu perguntei.
O Tijs voltou para o meu lado e disse: "Hij is er (ele chegou)"!
A expressão no rosto do Tijs quando ele voltou para o meu lado eu jamais vou esquecer. Assombro, alegria, amor. Os olhos dele brilhavam de uma forma como eu nunca havia visto e o sorriso dele era de emocionar.
Logo colocaram aquele pacotinho no meu peito. Até agora está vivo na minha memória a sensação daquele corpinho quente e úmido sobre o meu peito e aquele chorinho bravo de quem não queria sair da barriga da mamãe.
Convesamos muito com ele. O Tijs em Holandês e eu em Português. Nesse momento nascia também a dinâmica linguística da nossa família.
Sabe aquelas coisas que te falam que você esquece a dor do parto e que uma vez que o bebê chega você esquece de tudo?
Minha experiência?
Tudo verdade! Clichê, mas muito verdadeiro.
Já era mais de meia noite quando ficamos a sós no nosso quarto. Os dois Tijs, pai e filho, logo pegaram no sono. Eu demorei mais para dormir, talvez por causa da adrenalina. Pensei que deveria fazer uma oração agradecendo a Deus por tudo ter dado certo e pelo presente que ele nos tinha dado, mas a minha mente não conseguia formar palavras.
Naquele quartinho de hospital, naquela madrugada fria de novembro, tendo meu marido de um lado e meu filho do outro, meu coração só conseguia dizer: Obrigada, meu Deus. Muito obrigada.
*Gente, como eu fiz tudo aqui na Holanda e nunca tive filho no Brasil, eu não sei os termos em Português, então algumas coisas eu estou traduzindo literalmente, como "vontade de fazer força". Deve ter um nome em Português pra isso, mas eu não sei.
Lá pelas 15 horas vieram me examinar.
"6 a 7 centímetros. Nós vamos induzir as contrações".
Passamos a tarde assim: contração, respira, cochila, fala com a família no Brasil e na Holanda, contração, respira, exame, sonha e faz planos...
Tá sofrido, mas nosso menininho tá chegando.
Exame de toque novo. 8 centímetros. Aumenta a dose do remédio para acelerar as contrações.
Falta só mais dois centímetros!! Eu comecei a grunhir/gritar/gemer de dor. Mesmo com epidural, as contrações estavam muito intensas. Muito mais do lado direito, onde a anestesia não pegou, claro.
17 horas: 10 centímetros!!! Finalmente!!
Vem o ginecologista (já o segundo turno de ginecologista, parteira e enfermeira):
"Você está com 10 centímetros, mas não dá para fazer força ainda. O bebê ainda está alto demais".
Espera, espera e espera mais um pouco.
Às 19 horas chega a parteira com a novidade:"Kelly, você já está há muito tempo com dilatação total e não sente aquela urgência de fazer força, então nós decidimos empurrar esse bebê pra fora. Eu vou te dizer quando fazer força."
Nessa hora eu comecei a tremer e a chorar. Faltava pouco. Mesmo sem a tal da vontade de fazer força* eu decidi juntar toda a minha coragem e energia para trazer meu filho ao mundo.
19hs30min começamos a fase de expulsão.
Contração, força, força, força.
Contração, força, força, força
20hs30min: 0 % de progresso.
"Kelly, nós vamos tentar até as 21 horas. Se não tiver progresso, vou chamar a ginecologista. Mas eu acho que você vai precisar de uma cesariana" disse a parteira.
Contração, força, força, força e olho no relógio.
Eu só pesansava: Por favor, Deus, cesariana não!
E juntava toda a minha força para trazer meu filho ao mundo.
A enfermeira até perguntou se eu malhava pois eu tinha muita energia e força para empurrar o bebê.
"Estamos vendo a cabeça! Ele tem cabelo preto!!!"
O Tijs quis ver também.
Contração, força, força, força.
O Tijs com um sorriso do tamanho do mundo diz:"Eu tô vendo, ele tem cabelo preto mesmo!!"
21 horas chega a ginecologista (a terceira do dia).
"Nós vamos tentar mais 15 minutos, senão tiver progresso vamos fazer uma cesariana".
Eu me concentrei e pensei: 15 minutos! Eu tenho 15 minutos para tentar o tão desejado parto normal.
O relógio virou meu inimigo. Enquanto eu fazia força como nunca antes, acompanhava o mover dos ponteiros.
A ginecologista fez de tudo para me ajudar mantendo o canal de parto o mais aberto possível, o que aumentava ainda mais a dor.
Na última contração eu dei tudo de mim, mas o resultado foi o mesmo: o bebê não saía.
21hs15min. Meu tempo para tentar o parto normal tinha de esgotado.
"Vai ser cesariana mesmo" disse a ginecologista.
Eu chorei. Muito.
Cansaço, frustração, medo.
Pedi um tempo para eu e o Tijs orarmos. Eu precisava do consolo, força e coragem que só Deus pode dar.
"Se tiver mais contrações não precisa fazer força. É só fazer os exercícios de respiração" disse a parteira enquanto saía da sala de parto.
E assim todos saíram. Até as contrações foram embora. Ficamos só eu e o Tijs na sala de parto e nosso filho ainda mexia agitado na minha barriga e chutava a minha costela.
Oramos enquanto eu soluçava.
Meia hora depois vieram me buscar para me preparar. Eu estava mais calma nessa hora e pronta para conhecer o meu filho.
Tudo aconteceu muito rápido. A equipe conversava muito comigo para me distrair e faziam perguntas sobre o Brasil.
Eu pensei que eles nem tinham começado a me abrir quando eles perguntaram para o Tijs se ele queria ver o bebê nascer. Ele saiu rapidinho do meu lado e ficou ao lado da ginecologista. Eu contei os segundos e de repente, às 22hs27min, do dia 16 de novembro, eu ouvi o chorinho mais lindo do mundo.
" Is hij er? (ele chegou?)" eu perguntei.
O Tijs voltou para o meu lado e disse: "Hij is er (ele chegou)"!
A expressão no rosto do Tijs quando ele voltou para o meu lado eu jamais vou esquecer. Assombro, alegria, amor. Os olhos dele brilhavam de uma forma como eu nunca havia visto e o sorriso dele era de emocionar.
Logo colocaram aquele pacotinho no meu peito. Até agora está vivo na minha memória a sensação daquele corpinho quente e úmido sobre o meu peito e aquele chorinho bravo de quem não queria sair da barriga da mamãe.
Convesamos muito com ele. O Tijs em Holandês e eu em Português. Nesse momento nascia também a dinâmica linguística da nossa família.
Ele ficou o tempo todo deitado no meu peito e a cesariana que durou 45 minutos pareceu durar 10.
Fomos para a sala de recuperação. Eles queriam fazer mais alguns exames porque parece que eu perdi muito sangue durante a cesariana. Mas eu não estava nem aí. Para mim não existia mais dor ou medo. Meu mundo consistia em olhar para aquele serzinho enrugado que ainda choramingava.Sabe aquelas coisas que te falam que você esquece a dor do parto e que uma vez que o bebê chega você esquece de tudo?
Minha experiência?
Tudo verdade! Clichê, mas muito verdadeiro.
Já era mais de meia noite quando ficamos a sós no nosso quarto. Os dois Tijs, pai e filho, logo pegaram no sono. Eu demorei mais para dormir, talvez por causa da adrenalina. Pensei que deveria fazer uma oração agradecendo a Deus por tudo ter dado certo e pelo presente que ele nos tinha dado, mas a minha mente não conseguia formar palavras.
Naquele quartinho de hospital, naquela madrugada fria de novembro, tendo meu marido de um lado e meu filho do outro, meu coração só conseguia dizer: Obrigada, meu Deus. Muito obrigada.
*Gente, como eu fiz tudo aqui na Holanda e nunca tive filho no Brasil, eu não sei os termos em Português, então algumas coisas eu estou traduzindo literalmente, como "vontade de fazer força". Deve ter um nome em Português pra isso, mas eu não sei.